quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um brinde à qualquer coisa viva, simples e louca


Era uma destas festas comuns, na casa de algum amigo do amigo do amigo. Uma casa grande e simples, e bem na sala o som seguia como uma verdadeira balada. Tantas e tantas pessoas dançando, bebendo, fumando. A festa estava boa. Bons amigos presentes.

Eu permanecia sentado na varanda com um copo de vinho na mão e as estrelas acima lá no céu. Fui para dentro da sala dançar com os amigos umas duas vezes, dançava umas duas músicas e voltava para a varanda. Estava inquieto, por mais que amasse muito algumas pessoas lá dentro, ainda não estava completo, faltava ela.

Foi no terceiro copo de vinho na varanda que eu a vi atravessando a rua. Por mais simples que fosse o vestido, ela sempre estava monumental. Na metade da rua ela me avistou, sorriu, logo abriu o portão e subiu pelo jardim.

Abracei-lhe com um beijo. Agora sim estava completo, agora sim sentia peso nos pés, puxei sua mão e a levei festa adentro. Atravessamos a sala-pista-de-dança e fomos em busca dos amigos que já estavam lá, encontramos todos no jardim.

A roda se fez, o vinho foi reabastecido. A janela aberta da sala-pista-de-dança dava para o jardim dos fundos tornando ele nossa área VIP. Alguém pegou três garrafas e lá dançamos, rimos, bebemos e conversamos. Eu numa parte da roda, ela logo à minha frente.

Foi então que o milagre aconteceu. Do céu ainda com estrelas a chuva veio, nem tão fria, nem tão forte, as pessoas correram enquanto permanecia olhando para o alto, sentia por um segundo a chuva em meu rosto. Ao abaixar a cabeça lá estava ela de braços abertos e rosto para o céu. Ergui meu copo em um brinde, ela percebeu, sorriu e ergueu seu copo meio cheio. A chuva completava nossos copos, brindamos, bebemos e dançamos, dançamos, rodamos, pulamos rimos.


- Não precisa ficar aqui por minha causa. Disse-me ela.

- Não estou aqui apenas por sua causa, também amo tudo isso aqui.

- Você também ama um banho de chuva?

- Tanto que precisamos de um novo brinde.

- Acabou o vinho.

- Mas não é de vinho o brinde.


Levantei o copo deixando a chuva cair dentro. Ela sorriu e fez o mesmo.

Brindamos a qualquer coisa viva, simples e louca, a nós, aos amigos, ao amor, eu não me lembro, apenas lembro-me dela. Da vida pulsando em suas veias e perfumando toda sua pele, da poesia de seu sorriso.


Um senhor de cerca de quarenta anos bebia seu vinho branco, naquela festa ele estava deslocado. Não por não ser diferente ou algo assim, apenas os sentimentos o mantinham em qualquer lugar menos lá. As pessoas dançavam com vigor. A festa estava realmente boa, melhor que o vinho branco que ele mesmo comprou? Se questionava. Comprará o vinho, mas por algum motivo não o pôs junto com os outros, simples assim, pensando agora sobre isso, não entendia o motivo que o fizera pôr todos os outros vinhos na geladeira e justo este manter em sua mão, agora só ele o bebia distante. É um bom vinho – pensava – alguém mais precisa bebê-lo.

Algo gelado e molhado roçou seu cotovelo, virou assustado e avistou dois rostos logo abaixo na janela.


- Moço, pode nos dar um pouco do vinho? O nosso acabou.

- Claro!


Olhou para aquelas duas pessoas encharcadas com sorrisos tão alegres quanto os olhares - É, tudo tem o seu motivo e destino – pensou com seus botões – E o vinho encontrou o dele.



Alexs Tcho


Relato de uma noite em meados de fevereiro de 2011

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